Em cartaz desde 2017 com peças infantis e adultas nos teatros do Rio de Janeiro e São Paulo, a rotina diária, inclusive aos finais de semana, preenchia não só a vida de nós produtores, mas também dos atores, técnicos, contra regras, camareiras, bilheteiros, administração do teatro e aqueles que são o nosso maior objetivo, o público.
O desafio do produtor, antes da pandemia, se resumia em fazer um espetáculo bem produzido, onde as crianças e adultos pudessem ter seus olhos brilhando assim que o terceiro sinal fosse tocado e as cortinas fossem abertas, não só com o compromisso pela qualidade do espetáculo, mas também, para que as contas “batessem” no fechar do borderô, uma vez que a economia vinha em processo de desaceleração e as pessoas para manterem suas contas equilibradas viam a necessidade de “abrir mão” de algo essencial para nós, a diversão!.
E aí chegou ele, o vírus, devastando, ceifando, desequilibrando e colocando o país em estágio de atenção, com medidas urgentes e necessárias para que vidas fossem poupadas, mas em contrapartida, as cortinas foram fechadas, a luz se apagou e fomos embora, sem data para voltar, com os trabalhadores da cultura sem qualquer perspectiva, com um olhar lá para o futuro, que não sabíamos se seriam em três, nove meses ou até quando os figurinos ficariam guardados, sem vida ou emoção.
Até quando?
Não sabemos que resposta podemos dar para nossas crianças, que todos os finais de semana estavam lá, com o ingresso nas mãos, esperando a hora mágica chegar.
“O Miguel está com muita saudade do teatro, as peças faziam parte da diversão do nosso final de semana quase que sempre, então foi e está sendo bem difícil. O teatro faz muita falta pois aguça a imaginação, aumenta o direito de sonhar e se encantar com os personagens favoritos, assim como, ajuda da formação cultural das nossas crianças”, relata Aldara Lobosco do perfil @maternarcarioca, que faz um trabalho fantástico de divulgação no Instagram das atividades culturais para as crianças.
Dentro dos protocolos de segurança e após a liberação parcial das salas de espetáculo, alguns produtores desafiaram os seus medos, juntaram as economias e voltaram com suas peças, porém, se antes a situação já estava sendo monitorada, fazendo contas para que todos os profissionais pudessem ter suas remunerações, agora a situação ficou pior, com a insegurança de estar em um ambiente fechado, mesmo que controlado, mas com a sombra de uma possível contaminação.
Segundo a Fabiana Lima do perfil @momdemeninas, “minhas filhas amam teatro e desde o início da pandemia elas sempre pediam e lembravam dos nossos finais de semana assistindo os incríveis espetáculos. Me sinto segura a retornar, e ano passado assim que foi liberado nós estávamos lá. Porque elas sentiram muita falta e me pediam com muita frequência”.
Grande incentivadora e divulgadora dos espetáculos infantis no Instagram, Fabiana diz que a expectativa das crianças é muito grande e se permitiu levar as filhas, quando soube que todos os protocolos sanitários e de restrição estavam sendo cumpridos pelos espaços culturais.
Por outro lado, a preocupação com os trabalhadores da cultura ainda continua sendo gigantesca, uma vez que muitos deles não foram contemplados com qualquer ação social para garantir o básico da sobrevivência, sendo obrigados a fazer uma migração para outras atividades, e mais uma vez ressurgirem como Fênix, não com o corpo todo e suas asas, mas pelo menos com a cabeça, só para um breve respiro e não morrerem de fome.
Por mais estudos, pesquisas, narrativas e diálogos que existam, ainda a cultura é subjulgada, arrastada para um lugar obscuro, mas os dados estão aí para lastrear que SOMOS IMPORTANTES SIM.
Segundo dados da UNESCO, estima-se que o setor da cultura seja o responsável por gerar cerca de 30 milhões de empregos e movimentar US$ 4,3 trilhões ao ano (R$ 17,4 trilhões), equivalente a aproximadamente 6% da economia global (dados de 2019).
Quando for possível, estaremos novamente com os braços abertos para o nosso público, estamos loucos para “soltar” o terceiro sinal e ao final do espetáculo, organizar aquela fila linda, com as crianças ansiosas para ver de pertinho os seus personagens.
Até breve!
(texto produzido por Ana Férguson e Solannge Bighetti, produtoras e consultoras culturais, responsáveis por vários espetáculos produzidos pela Zeus Produções)
Agradecimentos: Aldara Lobosco do perfil no Instagram - @maternarcarioca e Fabiana Lima do perfil no Instagram @momdemeninas
@consultoria.cultural
@zeusproducoes2019
@anaferguson1935
@solanngebighetti
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